MODELANDO O MUNDO

Luz e sombra emergindo das formas criadas, essa a tônica subjacente ao trabalho de Décio Soncini, que, num momento distante afirmou citando o historiador e crítico de arte italiano Giulio Carlo Argan: “Busco não a coerência das coisas, mas o pensamento que as pensava”. Eis aí a origem primeira, a luz e a sombra que não são aplicadas às formas criando o claro-escuro caravaggesco, elas tem vida própria.

Destarte cada obra é o mesmo desafio, porém diverso, o imponderável o espreita, contudo tem de aceitar a moira do destino, aquele desejo palpitante de voltar a enfrentá-lo, e, como demiurgo modelar o mundo. Reside aí um paradoxo ao criar seja na pintura ou na gravura ele terá de interpretar uma percepção visual, transpor uma aparição formal que psicologicamente tem vida própria, não um desejo no mundo, mas do mundo. Caravaggesco já que luz e sombra em oposição criam formas e aqui são elas as próprias formas no chiaroscuro, onde as linhas do contorno dessa parceria inusitada originam pelo contraste de tonalidades a cor que emerge do fundo; ali não existe penumbra, não há transições, pois a luz não é refletida, é própria, surge através das camadas embora Décio não use o óleo para veladuras, é tinta acrílica que domina como poucos e à perfeição.

O mesmo ocorre na calcografia, a gravura em metal, através das ferramentas próprias à incisão, brunidor e raspador, aos meios químicos na água-forte e água-tinta. Como exímio desenhista a ponta-seca é sua extensão natural da mão, em que a forma é a configuração visível do conteúdo, tal como bem a definiu o pintor norte-americano Bem Shahn. Entretanto, seu domínio vai além como fica visível na maneira negra ou meia-tinta, tal como Rembrandt, o brilho nos objetos mais escuros como nas máquinas de costura aparece quando colocados em fundo mais negro pela eliminação das sombras e pela ausência de textura superficial inexistindo detalhes, uma capacidade imaterial dos objetos na essência de suas essências.

Sua atenção se volta a todo e qualquer objeto e como tal pode ser intuído e vivenciado artisticamente, e então poderá ser comunicado a nós outros de uma forma ou de outra. Clement Greenberg, influente crítico de arte norte-americano e porta-voz do modernismo colocou que o valor estético é o do afeto que não é simples emoção, é um veredicto de gosto impossível de ser avaliado, e que Kant compreendia como algo que precedia o prazer, um livre jogo das faculdades mentais.

Esse é seu mundo, e é inesgotável.

 

Walter de Queiroz Guerreiro, Prof.M.A.

Crítico de Arte ( ABCA/AICA)

 

    

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Décio Soncini



Currículo artístico



Antonio Zago - Revista "Isto É" - abr./1982 



Alberto Beutemüller - Revista Visão/abr. de 1982 



Enock Sacramento - Exposição - 1985 / Apresentação



Olívio Tavares de Araújo - Exposição - 1988 / apresentação



Radah Abramo - Revista "Isto É" - março/1989 



Walter de Queiroz Guerreiro - Exposição - 1993 / Apresentação



Artigo publicado no jornal "A Noticia" em outubro de 2003



Walter Queiroz Guerreiro - Inédito - Maio/2008 



Raul Forbes - Apresentação da exposição "Paisagens" - setembro/2011 



Lúcia Chaves - "Os infinitos cantos do ateliê" - maio/2014 



Walter de Queiroz Guerreiro - "Passagens" - agosto/2014 



Enock Sacramento - 4.2 Gonzalez e Soncini - 2019


 
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